sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Diário de um Brasileiro em Pequim – Primeira Semana

Este é o primeiro de uma série de posts que escreverei sobre a experiência de viver na China, onde estarei, a trabalho, pelos próximos três meses. A idéia é relatar aqui todas as novidades, estranhezas e peculiaridades deste país de cultura tão diversa da nossa.

Um tesouro no fundo do mar brilha no gigantesco painel luminoso do The Place
Quando desembarquei em Pequim, em 13 de agosto de 2011, após quase 30 horas de viagem, minha primeira reação foi de surpresa. Ainda que o progresso econômico da China esteja estampado, diariamente, em todos os principais jornais e revistas do mundo, esperava encontrar ainda um país de desenvolvimento intermediário, como o Brasil, a Argentina, a Índia, entre outros. Não foi necessário muito tempo para perceber que essa idéia correspondia, cada vez menos, à realidade. Moderno e imponente, o Aeroporto Internacional de Pequim já é uma indicação de que os chineses se preparam para alcançar uma outra categoria de nações. Com linhas curvas e arrojadas, o edifício apresenta design futurista ao mesmo tempo em que remete à estética dos antigos palácios chineses. Uma reunião perfeita entre as idéias de passado e futuro. Fiquei impressionado! Era como se tivesse viajado para a China e chegado ao Japão.

A segunda impressão que tive de Pequim não foi tão boa. Já ao sair do aeroporto, em direção ao hotel, percebi o céu acinzentado da cidade, resultado da poluição decorrente do acelerado crescimento industrial chinês das últimas duas décadas. Fiquei um pouco decepcionado, pois esperava poder tirar belas fotos da cidade, que acaba perdendo muito de sua beleza em dias com esse.

Minha primeira semana na China foi assim: cheia de surpresas e novidades, algumas boas, outras nem tanto. De certa forma, já esperava por isso. Afinal, nunca havia estado num país de cultura tão distante da minha. No início, todo cuidado era pouco. Durante algum tempo, andei em ovos para não cometer nenhuma gafe ou desrespeito aos costumes locais.

A comunicação é outro problema sério, até agora sem solução satisfatória. Mesmo o inglês, que imaginava ser uma língua universal, não é de muito uso aqui. Embora muitos chineses tenham alguma noção do idioma, é raro encontrar alguém que consiga desenvolver um diálogo além das frases mais básicas.

Mesmo no hotel, onde esperava encontrar funcionários treinados para conversar com estrangeiros, a comunicação é difícil. Muitas vezes, simplesmente desisti de pedir alguma coisa. Em certa ocasião, tive de fazer um desenho para explicar que o ralo do meu banheiro estava transbordando sempre que eu tomava banho. Foi uma luta, mas, com muito esforço, consegui comunicar o problema, que foi resolvido posteriormente.

Uma boa surpresa foi descobrir que, após os dias de chuva, o céu amanhece azul. A cidade parece outra! Os prédios altos, as ruas bem arborizadas, os canteiros floridos, tudo isso antes meio apagado pelo cinza surge aos olhos com cores e formas que pareciam não existir. A cidade, que era feia, torna-se bonita.

Ainda durante a primeira semana, conheci alguns shopping centers da cidade, coisa de primeiro mundo! É difícil reconhecer, mas nem em São Paulo temos algo assim no Brasil. O The Place e o Sanlitun Village são cenários de uma nova China, onde chineses endinheirados e bem vestidos (nada comunistas) consomem como americanos ou europeus.

O primeiro choque cultural

Outro lugar interessante da cidade é Houhai, um conjunto novo de lojas e restaurantes que circundam uma lagoa. Um lugar bem legal, onde se pode almoçar ou mesmo sentar à mesa e beber alguma coisa, de dia ou de noite, em um cenário bastante contemporâneo, ainda que com motivos claramente chineses.

Lá, no entanto, passei por uma das situações mais inusitadas até agora. Já havia lido sobre isso, mas confesso que fiquei completamente desconcertado quando entrei num banheiro público e deparei com um homem com as calças baixas e de cócoras sobre um buraco no chão. As estórias eram verdadeiras: na China, o vaso sanitário é uma novidade do Ocidente, o que não tem a ver com o nível de desenvolvimento do país e sim com os costumes locais. O lugar utilizado para se livrar do “número 2” é um buraco no chão, com acabamento metálico ou de louça, onde é preciso agachar e, ao menos por alguns segundos, “levitar” sobre o fosso. Em alguns banheiros, já há divisórias entre os “buracos”. Em outros, eles ficam lado a lado, sem nada que separe uma pessoa da outra. Para o chinês, no entanto, isso é comum e até corriqueiro. Foi o que percebi quando o vi o tal homem de cócoras. Minha primeira reação foi sair do lugar imediatamente. Só depois percebi que o senhor não havia, nem por um instante, demonstrado algum constrangimento com a minha presença. O mal-estar com a situação estava só na minha cabeça. É como já havia lido: o chinês tem uma noção de privacidade diferente da que temos no Ocidente. Na China, muitas pessoas crescem nos hutongs, bairros onde boa parte da vida doméstica acaba se misturando com a vida comunitária. Os banheiros, nesses lugares, ficam do lado de fora das casas e são divididos pelos moradores da rua.

Essas foram algumas das novidades que precisei assimilar logo na primeira semana. Eu sabia, no entanto, que muito mais estava por vir. As diferenças culturais não se restringiam ao que tinha observado até então, e as construções modernas de Pequim retratam apenas as últimas décadas de um país com uma história milenar.  Descobrir a China ancestral era o meu próximo passo.

17 comentários:

  1. Amor! Ainda to chocado com as coisa que vc tem contado....

    Doido pra chegar aí!!!

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  2. Excelente texto! Fiquei com vontade de visitar tb..

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  3. Felipe, vem logo que aqui está muito bom!! Com você aqui, só vai melhorar.

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  4. Alécio, muito bom texto.
    Parabéns pelo blog.

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  5. essa do banheiro já havia ouvido tb! momentos de tensão!!

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  6. Adoro ver o olhar especial que você tem sobre suas experiências! Continue compartilhando...
    beijo

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  7. gente, na China o buraco é mais embaixo rsr

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  8. Alécio, muito legal! Meu chefe esteve aí ano passado e contou várias histórias ilárias. Vou acompanhar seu blog. Boa sorte! Jana

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  9. Obrigado, tia!

    Humberto, o buraco é mais embaixo mesmo aqui na China!

    Jana, acompanhe mesmo o blog. Tem coisa bem interessante vindo aí. Beijo.

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  10. hehehehehe Mas ate que esses banheirinhos no chão sao higiênicos, vc acaba que nao toca em nada. Mas, nos mulheres, estamos acostumadas a fazer "as coisas" levitando sobre a privada (publica) mesmo... Fui ao Houhai tomar uma cervejinha também... toma outra por mim ai! Beijos!

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  11. Na expectativa para o próximo post!

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  12. Gostei muito do blog. Muito interessante. E realmente a China é algo incrivel. Estou me mudando para Beijing dia 30 de outubro. Chego aí bem no dia do meu aniversario. Estou debruçado no mandarim. Seu site me ajudou muito.
    http://bricslavamosnos.blogspot.com/
    Tudo que aprendo publico no meu blog. Mandarim, cultura e o futuro de um quase morador da China.
    Um abraço

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  13. Renan, que ótimo saber que o blog está antecipando para você um pouco do que vai encontrar por aqui. Boa sorte! Viver aqui é uma experiência e tanto.

    abraço

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