terça-feira, 27 de setembro de 2011

O Estranho Cardápio de Wanfujing

A alguns quarteirões da Praça da Paz Celestial e da Cidade Proibida está a rua Wanfujing. Especializada no comércio de todo tipo de artigo – de eletrônicos a vestuário - a rua é conhecida também por abrigar uma estranha feira onde são vendidas, entre outras coisas, refeições no mínimo exóticas para o paladar ocidental.

Depois de mais uma intensa jornada de turismo em Pequim, eu e Michele resolvemos terminar o dia em Wanfujing para conhecer a famosa feira onde, segundo dizia a lenda, eram vendidas “guloseimas” pra lá de estranhas. Chegamos ao lugar no fim de tarde, quando já começava a escurecer.


Logo no início da rua, avistamos as luzes de um beco ao qual se tinha acesso por um colorido portal chinês. Enfeitado por lanternas típicas que banhavam o ambiente com uma fraca luz amarela, o local era cheio de vendas e barraquinhas onde se podiam encontrar souvenirs e artigos tradicionais. Animadas, as pessoas movimentavam-se nos dois sentidos do beco, conversando e rindo descontraidamente. Uma energia boa fluía por todo o espaço.
scaras à venda em Wanfujing imitam as pinturas faciais da tradional ópera de Pequim
Era um bequinho realmente chinês, como aqueles que se veem nos filmes. Tinha-se a impressão de que, em algum canto em meio a toda aquela gente, deveria haver uma barraquinha escondida e mal iluminada onde uma velhinha chinesa guardava um antigo segredo, um livro de encantamentos ou um amuleto sagrado há muito perdido.
Mas a principal atração de Wanfujing não são os souvenirs ou a decoração típica. A maior parte das pessoas que vai à rua quer ver ou experimentar as estranhas iguarias encontradas ali. Entre os itens do cardápio, bichos pra lá de exóticos, como escorpião, cavalo marinho, cigarra e estrela do mar, geralmente vendidos fritos no espetinho.

Ao contrário do que se imagina, no entanto, esses petiscos não são comidos pela maioria dos chineses. Os habitantes da cidade contam que, inicialmente, podiam ser encontrados ali pratos típicos da culinária nacional, inclusive esses pequenos aperitivos, comuns apenas em uma ou outra parte da China, mas não em Pequim ou na maioria das grandes cidades. Os estrangeiros, no entanto, impressionados ao ver bichos tão estranhos vendidos ao ar livre, começaram a freqüentar a feira, que acabou por se especializar nessa categoria gastronômica com o único objetivo de atrair cada vez mais turistas ansiosos por ver ou saborear um delicioso espetinho de lacraia ou escorpião.

Ainda assim, o lugar é bem legal, um dos que mais gostei em Pequim até o momento. Vale a pena conhecer. E, caso você não tenha levado o próprio lanche, não se preocupe, tem uma McDonalds ali do lado!

Mais fotos de Wanfujing:
Um minuto de descanso para o jovem vendedor de guloseimas exóticas
Uma vendedora faz o balanço do dia na feira de Wanfujing





sábado, 24 de setembro de 2011

Manual de Sobrevivência para Ocidentais em Pequim

Viver em Pequim não é uma tarefa fácil para as pessoas vindas do Ocidente. A gigantesca diferença de hábitos alimentares, costumes, idioma, entre outras coisas, tornam a vida na capital chinesa um exercício diário de adaptação.




Acostumar-se à vida em Pequim exige um pouco de paciência, é verdade. Mas há algumas medidas que podem facilitar bastante essa transição. Abaixo, faço um pequeno resumo do que pode vir a ser um problema para os ocidentais e de como, resolver, ao menos provisoriamente, os desafios mais difíceis. Entre esses, escolhi três que considero os mais presentes no cotidiano: a alimentação, a comunicação e a locomoção.

A alimentação:

O primeiro deles parece ser aquele que mais amedronta os forasteiros por aqui. A comida chinesa da China, bem diferente da versão ocidentalizada que se encontra do lado de fora das fronteiras, nem sempre agrada ao paladar dos ocidentais. O cardápio às vezes assusta pelos ingredientes, às vezes pelo tempero, e por aí vai. Não se surpreenda se encontrar feijão ou carne suína em um doce. Como diz o ditado, gosto não se discute.

A boa notícia é que Pequim é uma cidade bastante cosmopolita e oferece muitas opções gastronômicas para quem vem de fora. O que não faltam são restaurantes italianos, mexicanos, americanos e até mesmo brasileiros. É possível passar uma vida inteira aqui sem nunca precisar comer a comida local.

Outra mão na roda é o Jenny Lou’s – supermercado favorito dos ocidentais - onde se pode encontrar produtos de todas as categorias, assim como as marcas mais conhecidas no lado Oeste do globo.

A comunicação:

Este é, sem dúvida alguma, o maior desafio para qualquer estrangeiro na China. Embora seja possível estudar e aprender a se comunicar em mandarim, pode-se dizer que esse é um projeto de longo prazo. Pessoas que vivem aqui há mais de uma década e dominam o linguajar coloquial sem dificuldades ainda passam por um aperto quando a discussão atinge um nível maior de complexidade.

É possível, no entanto, aprender uma ou outra expressão que podem tornar a vida bem mais fácil. Um bom exemplo é saber pedir a conta em restaurantes ou saber dizer “quero isto”, “não quero isto”, “obrigado” etc. São palavras e expressões básicas que ajudam bastante

Outra dica: quando o chinês com quem você estiver conversando falar um mínimo de inglês, não complique a vida dele. Fique contente quando o garçom  te trouxer uma Coca Light, em vez da Coca Zero que você pediu. Já está bom demais ele ter trazido um refrigerante com menos calorias. Frases diretas, sem orações adjetivas intercaladas, são as mais eficazes. Se quiser água, diga, em inglês, “quero água”. Simples assim. Nada de “Você poderia me trazer uma garrafa d’água, por favor?”. Quanto mais elaborado for o seu pedido, maiores são as chances de que haja algum ruído na comunicação. Nesse ponto, brasileiros, em especial, são mestres em complicar. Entre outras coisas, adoram pedir alterações no prato como “você pode trazer batatas fritas, em vez de assadas”. Ir por esse caminho, na China, é pedir para que algo coisa saia errado.

A locomoção

O problema da locomoção, em Pequim, também passa, em algum momento, pela comunicação. Embora a cidade conte com muitas linhas de metrô, com o nome das estações em mandarim e em inglês, nem sempre elas te levarão aonde você quer chegar. Muitas vezes, será necessário pegar um taxi. Nesse momento, o idioma surge mais uma vez como uma barreira. Os taxistas chineses, como os brasileiros, não falam inglês. Pra piorar a situação, os nomes dos lugares onde se deseja ir nada têm a ver, em mandarim, com sua pronúncia em qualquer língua ocidental.

Felizmente, desenvolveu-se, em Pequim, um esquema que parece funcionar bem. Ocidental que se preze, não deixa de pegar o cartão de todos lugares de que gosta: restaurantes, lojas, museus, shopping centers. Ali vem escrito o endereço do lugar em mandarim e em inglês. Quando, em outra ocasião, se desejar voltar ao lugar, basta mostrar o cartão ao motorista do taxi, que ele saberá para onde ir.

O livrinho mágico
ma medida importantíssima é ter em mãos um guia com endereços para taxistas. Facilmente encontrados em livrarias e lojas, esses pequenos livros trazem, em inglês e mandarim, endereços dos principais estabelecimentos de compras, lazer, turismo, cultura etc. Com um desses no bolso, é possível se chegar a quase qualquer lugar em Pequim.

Outra atitude que ajuda muito é saber dizer, na língua local, palavrinhas como “vire à direita”, “vire à esquerda” e “chegamos”. Isso pode te ajudar a orientar o taxista, quando este não estiver encontrando o endereço.

Ganhando independência
No que diz respeito à locomoção, o que realmente fez a diferença pra mim foi comprar uma bicicleta. Designado para trabalhar em Pequim por três meses, já na segunda semana estava cansado de depender de taxistas que nem sempre me entendiam e que, quando chovia, desapareciam das ruas como que num passe de mágica. Orientado por Carlos, um amigo que há dois anos vive em Pequim, comprei uma bicicleta e, desde então, tenho conhecido os principais pontos da cidade, que tem ciclovias em, praticamente, todas as ruas.



segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Entre os Muros da Cidade Proibida

Após uma semana de trabalho em Pequim, o fim de semana finalmente havia chegado. Era hora de por em prática o pequeno roteiro turístico que havia traçado antes de mesmo de deixar o Brasil. Dentre os muitos tesouros chineses a serem explorados, o primeiro deles deveria ser a Cidade Proibida.


Mesmo antes de conhecer a China, a Cidade Proibida já despertava o meu interesse. A idéia de uma pequena cidade dentro da cidade sempre me levou a romantizar como seria a vida de um imperador chinês em meio a ambientes tão suntuosos, completamente protegido de qualquer ameaça externa. Cercado por muralhas de 10 metros de altura, esse conjunto de palácios, praças e jardins ocupa 720 mil metros quadrados no centro de Pequim e é uma das mais importantes obras arquitetônicas remanescentes da China imperial. Ao longo de 500 anos, até a década de 1920, muitos imperadores viveram entre seus muros e de lá governaram todo o país. Durante esse período, apenas a realeza, autoridades, militares e serviçais da corte tinham acesso ao lugar. Daí o nome pelo qual ficou conhecido.
Porta da Suprema Harmonia
Na semana que antecedeu esse passeio, encontrei Michele, uma amiga que,  assim como eu, estava de passagem por Pequim e tinha a mesma disposição de explorar tudo o que a capital chinesa tinha a oferecer. Conhecer a Cidade Proibida foi, no entanto, uma experiência completamente diferente do que havíamos imaginado.

Cores e formas da Cidade Proibida

A arquitetura do lugar é de fato linda! Construída em pedra e madeira, a estrutura dos palácios é revestida por uma pintura em cores vivas, rica em ilustrações e símbolos da cultura chinesa. Os telhados dourados, também muito bonitos, são um show à parte.


Esse primeiro passeio, no entanto, deixou claro para mim e Michele algo que nos havia sido ensinado desde a época de escola: a China é o país mais populoso do mundo! Pudemos constatar isso na prática, pois nunca antes havíamos estado num lugar com tanta gente.

Bem que haviam nos advertido que o fim de semana não era o melhor momento para nos arriscarmos por aqueles lados. Mas que opção tínhamos nós? Estávamos trabalhando nos dias úteis. Só nos restava o fim de semana.

Para piorar nossa situação, o sol ainda estava forte naqueles dias de agosto e, durante boa parte da caminhada que fizemos, não havia uma sombra sequer onde pudéssemos nos refugiar.

Por mais belas que fossem todas aquelas construções, a partir de determinado momento, só pensávamos em sair. Nosso trajeto, no entanto, acabou sendo mais longo do que havíamos antecipado. Entramos na cidade por volta de 11h30 e só conseguimos sair depois das 16h. Levamos, pelo menos, cinco horas entre o início e o fim do passeio.

Difícil não se sentir incomodado num lugar assim. Até mesmo fotografar era uma tarefa difícil! Eram raros os momentos em que não havia nenhuma cabeça no meio do caminho. As poucas fotos em que não se vê gente passando foram momentos de pura sorte. Outras foram tiradas de ângulos que não mostravam as centenas de turistas.


Na mira das lentes chinesas

Um traço bastante típico do chinês acabou-se tornando um outro incômodo para Michele. Embora os habitantes de Pequim já estejam acostumados com a presença de estrangeiros, muitos dos que visitam lugares turísticos como a Cidade Proibida são pessoas vindas do interior da China, gente que nunca viu um ocidental em toda a vida. Para esses chineses, eu e Michele éramos tão ou mais interessantes do que o lugar que estavam visitando. Quando dei por mim, havíamos passado de turistas a atração turística. Alguns desses chineses nos fotografavam de longe, para que não percebêssemos, ao passo que os menos desinibidos vinham até nós e pediam para que tirássemos uma foto com eles. Depois de algum tempo, Michele, que era de longe a preferida para as fotos, começou a se cansar de tanto assédio.
 
Michele, ainda com paciência, cede 30 segundos do seu tempo para uma foto com duas chinesas
No final, deu tudo certo. Depois de cruzarmos um número sem fim de ambientes, finalmente chegamos à saída. Terminamos o dia em Houhai (ver post anterior), comendo em um restaurante à beira da lagoa.

Hoje, passado o momento, acho que a aventura valeu a pena. Como diz um amigo, tudo é estória pra contar. O lugar é realmente bonito, ainda que a multidão prejudique bastante a experiência de explorá-lo e conhecê-lo a fundo.


Mais fotos da Cidade Proibida:

Desinibida, uma chinesinha faz pose para a minha foto
Um raro momento de tranquilidade na Cidade Proibida

Uma faxineira faz uma pausa para o descanso


Leões guardam as entradas de lugares importantes. O macho traz uma esfera sob a pata, ao
passo que a fêmea (foto de entrada), um filhote.  


sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Diário de um Brasileiro em Pequim – Primeira Semana

Este é o primeiro de uma série de posts que escreverei sobre a experiência de viver na China, onde estarei, a trabalho, pelos próximos três meses. A idéia é relatar aqui todas as novidades, estranhezas e peculiaridades deste país de cultura tão diversa da nossa.

Um tesouro no fundo do mar brilha no gigantesco painel luminoso do The Place
Quando desembarquei em Pequim, em 13 de agosto de 2011, após quase 30 horas de viagem, minha primeira reação foi de surpresa. Ainda que o progresso econômico da China esteja estampado, diariamente, em todos os principais jornais e revistas do mundo, esperava encontrar ainda um país de desenvolvimento intermediário, como o Brasil, a Argentina, a Índia, entre outros. Não foi necessário muito tempo para perceber que essa idéia correspondia, cada vez menos, à realidade. Moderno e imponente, o Aeroporto Internacional de Pequim já é uma indicação de que os chineses se preparam para alcançar uma outra categoria de nações. Com linhas curvas e arrojadas, o edifício apresenta design futurista ao mesmo tempo em que remete à estética dos antigos palácios chineses. Uma reunião perfeita entre as idéias de passado e futuro. Fiquei impressionado! Era como se tivesse viajado para a China e chegado ao Japão.

A segunda impressão que tive de Pequim não foi tão boa. Já ao sair do aeroporto, em direção ao hotel, percebi o céu acinzentado da cidade, resultado da poluição decorrente do acelerado crescimento industrial chinês das últimas duas décadas. Fiquei um pouco decepcionado, pois esperava poder tirar belas fotos da cidade, que acaba perdendo muito de sua beleza em dias com esse.

Minha primeira semana na China foi assim: cheia de surpresas e novidades, algumas boas, outras nem tanto. De certa forma, já esperava por isso. Afinal, nunca havia estado num país de cultura tão distante da minha. No início, todo cuidado era pouco. Durante algum tempo, andei em ovos para não cometer nenhuma gafe ou desrespeito aos costumes locais.

A comunicação é outro problema sério, até agora sem solução satisfatória. Mesmo o inglês, que imaginava ser uma língua universal, não é de muito uso aqui. Embora muitos chineses tenham alguma noção do idioma, é raro encontrar alguém que consiga desenvolver um diálogo além das frases mais básicas.

Mesmo no hotel, onde esperava encontrar funcionários treinados para conversar com estrangeiros, a comunicação é difícil. Muitas vezes, simplesmente desisti de pedir alguma coisa. Em certa ocasião, tive de fazer um desenho para explicar que o ralo do meu banheiro estava transbordando sempre que eu tomava banho. Foi uma luta, mas, com muito esforço, consegui comunicar o problema, que foi resolvido posteriormente.

Uma boa surpresa foi descobrir que, após os dias de chuva, o céu amanhece azul. A cidade parece outra! Os prédios altos, as ruas bem arborizadas, os canteiros floridos, tudo isso antes meio apagado pelo cinza surge aos olhos com cores e formas que pareciam não existir. A cidade, que era feia, torna-se bonita.

Ainda durante a primeira semana, conheci alguns shopping centers da cidade, coisa de primeiro mundo! É difícil reconhecer, mas nem em São Paulo temos algo assim no Brasil. O The Place e o Sanlitun Village são cenários de uma nova China, onde chineses endinheirados e bem vestidos (nada comunistas) consomem como americanos ou europeus.

O primeiro choque cultural

Outro lugar interessante da cidade é Houhai, um conjunto novo de lojas e restaurantes que circundam uma lagoa. Um lugar bem legal, onde se pode almoçar ou mesmo sentar à mesa e beber alguma coisa, de dia ou de noite, em um cenário bastante contemporâneo, ainda que com motivos claramente chineses.

Lá, no entanto, passei por uma das situações mais inusitadas até agora. Já havia lido sobre isso, mas confesso que fiquei completamente desconcertado quando entrei num banheiro público e deparei com um homem com as calças baixas e de cócoras sobre um buraco no chão. As estórias eram verdadeiras: na China, o vaso sanitário é uma novidade do Ocidente, o que não tem a ver com o nível de desenvolvimento do país e sim com os costumes locais. O lugar utilizado para se livrar do “número 2” é um buraco no chão, com acabamento metálico ou de louça, onde é preciso agachar e, ao menos por alguns segundos, “levitar” sobre o fosso. Em alguns banheiros, já há divisórias entre os “buracos”. Em outros, eles ficam lado a lado, sem nada que separe uma pessoa da outra. Para o chinês, no entanto, isso é comum e até corriqueiro. Foi o que percebi quando o vi o tal homem de cócoras. Minha primeira reação foi sair do lugar imediatamente. Só depois percebi que o senhor não havia, nem por um instante, demonstrado algum constrangimento com a minha presença. O mal-estar com a situação estava só na minha cabeça. É como já havia lido: o chinês tem uma noção de privacidade diferente da que temos no Ocidente. Na China, muitas pessoas crescem nos hutongs, bairros onde boa parte da vida doméstica acaba se misturando com a vida comunitária. Os banheiros, nesses lugares, ficam do lado de fora das casas e são divididos pelos moradores da rua.

Essas foram algumas das novidades que precisei assimilar logo na primeira semana. Eu sabia, no entanto, que muito mais estava por vir. As diferenças culturais não se restringiam ao que tinha observado até então, e as construções modernas de Pequim retratam apenas as últimas décadas de um país com uma história milenar.  Descobrir a China ancestral era o meu próximo passo.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

No Reino das Araucárias


O post de hoje traz algumas fotos e comentários da viagem que fiz, recentemente, ao Sul do país. O destaque está para a natureza - muito diferente da que se encontra nas outras regiões brasileiras - para a arquitetura e para o estilo de vida bastante europeizados.


A viagem surgiu com uma visita que há muito estava devendo aos meus sogros, Luiz e Rosane, em Gravatal, interior de Santa Catarina. Chegando ali, minha família catarinense fez questão de me mostrar a região e me levar a alguns lugares muito interessantes. Apesar da neblina e da chuva que ia e vinha, pude ver a beleza daquele estado nos momentos em que o céu se abriu. 

A foto acima foi tirada quando descíamos a Serra Catarinense, relevo coberto por uma densa vegetação, em meio à qual ainda se podem ver muitas araucárias. Genuinamente brasileira, essa espécie de pinheiro, que já chegou a ser encontrada até mesmo em regiões altas de Minas Gerais e São Paulo, ocupa hoje apenas 5% de sua área original e pode ser vista em maior número apenas na região Sul.

Mesmo assim, em alguns trechos por onde passamos, era difícil crer nessa estatística. Altas e imponentes, as araucárias, muitas vezes, espalhavam-se pelos morros até onde a vista podia alcançar.

No topo da serra, uma surpresa: embora a espessa névoa encobrisse a vista panorâmica que, provavelmente, se teria dali, a subida até o mirante valeu pela calorosa recepção dos quatis, sempre muito amáveis com os turistas que os alimentam (foto à direita).

Em outro passeio que fizemos, Rosane me levou para conhecer o café colonial da Fluss Hause - ou casa do rio, em português - nas proximidades da cidade catarinense de São Martinho, de colonização alemã. No caminho para lá, uma cena inusitada nos chamou a atenção: a árvore de um rancho à beira da estrada tinha sua copa completamente coberta por um bando de garças que ali descansava. A cena foi, de fato, mais bonita do que consegui retratar na foto abaixo.


Gramado

Após cinco dias em Santa Catarina, eu e Felipe seguimos viagem rumo a Gramado, cidade de colonização alemã e italiana no Rio Grande do Sul. Conhecida por sua arquitetura de influência europeia, seus cafés coloniais e pelo delicioso chocolate ali fabricado, Gramado localiza-se na região da Serra Gaúcha e tem cerca de 33 mil habitantes.

Centro de Gramado - RS
Felipe na Cantina Pastasciutta
No dia em que chegamos, caía uma garoa que parecia não ter fim, e a forte neblina permitia enxergar apenas alguns metros à frente. O locutor de uma rádio local comentava em tom de brincadeira: "Gramado está dentro de uma nuvem! Nós moramos em uma nuvem!". E assim a cidade permaneceu durante alguns dias. Diante dessas circunstâncias, optamos por fazer programas em lugares fechados e deixar os passeios a céu aberto para mais tarde, quando o sol resolvesse aparecer. Começou aí nossa jornada gastronômica!
 
Como havíamos alugado um carro, a cada vez que saíamos para comer, dávamos uma volta pela cidade à procura de algum lugar que nos parecesse atraente, acolhedor, um lugar ideal para fugir do frio e esquentar a alma. Ficamos impressionados ao descobrir que, numa cidade pequena como Gramado, era possível encontrar restaurantes que em nada perdiam para estabelecimentos de alto nível das grandes capitais brasileiras. Entre os que mais gostamos, estão a Cantina Pastasciutta (http://www.pastasciutta.com.br), onde comemos uma deliciosa massa à moda italiana, e o Belle du Valais (http://www.belleduvalais.com.br), especializado na culinária suíça.

Outra experiência gastronômica imperdível em Gramado são os fartos café coloniais, servidos em vários pontos da cidade desde a manhã até o início da noite.

A Serra Gaúcha

Assim como a Serra Catarinense, a Serra Gaúcha é coberta por uma vegetação muito semelhante à das regiões altas da Europa. As araucárias ali podem ser vistas em grande número não apenas na área silvestre, mas também dentro das próprias cidades.

A beleza natural da serra pode ser apreciada, particularmente, no Parque do Caracol, que fica entre Gramado e Canela, a poucos minutos de ambos os municípios. A principal atração do lugar é a Cascata do Caracol, que é na verdade uma belíssima cachoeira. Uma vista realmente impressionante! Além dela, há trilhas por dentro do parque ao longo das quais é possível ver paisagens belíssimas. Para quem gosta de natureza, é uma caminhada que vale a pena fazer.

Cascata do Caracol

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Todas as cores de Barbados

Colonizado pelos ingleses no século XVII, Barbados é hoje um dos países caribenhos com melhor infraestrutura para receber turistas. A ilha conta com paisagens belíssimas e opções de lazer as mais diversas, tanto para quem busca sombra e água fresca como para quem procura ação, esportes etc.

Accra Beach

Conheci Barbados no primeiro semestre deste ano. A motivação inicial da viagem era visitar os amigos Eduardo e Sophia, que, como diplomatas, vivem e trabalham hoje no país. Confesso que, fora a idéia estereotipada que há sobre as ilhas caribenhas, tinha pouca informação a respeito do lugar. A realidade, no entanto, mostrou-se melhor do que eu havia imaginado.

A ilha possui praias lindíssimas e a cor do mar é algo indescritível. A foto abaixo, tirada enquanto passeávamos em uma das embarcações que levam turistas pelo litoral, reflete um pouco dessa beleza. Esse passeio conta com breves paradas em lugares específicos onde se pode mergulhar com snorkell e ver de perto navios naufragados, bem como observar a diversidade da fauna aquática do Caribe. O mais impressionante são as imensas tartarugas marinhas que, atraídas por peixes jogados ao mar pelos guias, chegam bem perto dos turistas durante o mergulho.

Passeio de catamarã pela costa barbadiana

É verdade que em Fernando de Noronha vi uma diversidade maior de cardumes, bem como peixes mais coloridos e exuberantes, mas em nenhum outro lugar fiquei tão próximo de uma tartaruga marinha como em Barbados.

Para quem prefere ficar em terra firme, as praias de Barbados possuem uma boa infraestrutura para o turismo, uma das principais fontes de renda da ilha. De uma maneira geral, a todos os lugares que fomos, havia sempre um quiosque ou um bar onde se podia pedir algo pra beliscar debaixo do guarda-sol depois de um mergulho no mar. Entre as iguarias locais, está o famoso peixe voador, prato típico barbadiano, e, nas praias, vale a pena experimentar uma porção de fishcake, que lembra muito o nosso bolinho de bacalhau em aparência, embora, em sabor, seja bastante diferente deste. É bom, no entanto, ficar atento ao tempero local, levemente apimentado para o paladar brasileiro.

Invadindo a casa alheia

Dividida em paróquias (e não em estados ou distritos), a ilha possui algumas pequenas aglomerações urbanas aqui e ali, ainda que nada lembre o centro de uma grande cidade, nem mesmo em Bridgetown, capital do país. Espalhadas por toda a ilha, veem-se lindas casas de madeira, pintadas das mais diversas cores, sempre muito vivas. Se estivesse de carro ali, teria, certamente, tirado uma tarde para buscar as casas mais bonitas e fotografá-las. Como não estava, contentei-me em fazer uma busca a pé pelas ruas próximas ao condomínio onde ficamos, em Hastings.


Quando caminhava pela área, acabei topando com esta linda casa (foto acima), com a fachada em branco e azul, cores até bem discretas para a variedade de combinações que se encontram nas residências da ilha. De qualquer maneira, essa casa era especial: maior, mais bonita e com detalhes interessantes na decoração, como uma guirlanda vermelha pendurada na porta de entrada. Tão logo a avistei, saquei, imediatamente, minha câmera e comecei a fotografá-la. Não demorou muito até que aparecesse na varanda a proprietária do lugar. Tive medo de levar uma bronca. Afinal, nem todos se sentem à vontade ao ver sua casa fotografada por um desconhecido. A moça, no entanto, foi bastante simpática. Expliquei a ela quem eu era e o que fazia ali e, ao contrário da minha expectativa inicial, fui convidado a entrar e autorizado a tirar quantas fotos quisesse. Fiquei impressionado com sua hospitalidade. Jennifer, como se chamava, era jamaicana e vivia em Barbados porque havia-se casado com um nativo da ilha.

Enquanto me levava pelo terreno da casa, que dispunha de uma ampla área verde, Jennifer falou-me um pouco de sua história e também da história do lugar. A casa havia pertencido, há muito tempo, a um reverendo da igreja anglicana de São Matias, que fica ali em frente, do outro lado da rua. Recentemente, o lugar estava completamente abandonado, caindo aos pedaços, segundo ela. Quando Jennifer e o marido voltaram dos Estados Unidos, onde viveram durante algum tempo, resolveram comprar o imóvel, restaurá-lo e pintá-lo de cores vivas, bem ao estilo local. "That's the way we like it here", dizia ela, orgulhosa do resultado. Hoje, a casa é uma espécie de pousada e hospeda turistas de todos os cantos do mundo.


Um pouco de história

Para quem gosta de fotografar, outro local interessante é Charles Fort, em Carlisle Bay, localizado na praia em que está o Hotel Hilton. Descobri o lugar meio que por acaso no dia em que resolvemos conhecer aquele canto da ilha. Da praia, podíamos ver o forte, mas parecia não haver nenhuma passagem que levasse para dentro dele. Víamos apenas as muralhas, onde as ondas arrebentavam, e no topo, canhões apontando para o mar. De férias e sentindo-me desobrigado de qualquer coisa além de descansar e aproveitar o dia de sol, deitei-me numa espreguiçadeira e contentei-me apenas em ficar ali, curtindo a brisa e o barulho do mar.



Mais tarde, ao caminhar pela área externa do hotel, fiquei curioso para saber o que havia atrás de uns arbustos ao lado da piscina. Resolvi explorar o lugar. Fui-me embrenhando por ali num terreno que subia, em meio à vegetação, mas sem saber onde terminaria. Para minha surpresa, acabei no topo do forte que - soube mais tarde - havia sido restaurado depois de ter permanecido semidestruído por bastante tempo. Construído pela marinha inglesa no século XVII, a fortificação abriga uma série de canhões - 24 no total - bem como jardins muito bem cuidados que ornamentam sua estrutura (foto abaixo). Além de bonito, o lugar é interessante por dizer um pouco da história de Barbados, que, como outras ilhas do Caribe, foi alvo de disputa entre as potências coloniais. Fortificações como essa eram necessárias para proteger as posses britânicas dos ataques de espanhóis, holandeses e até mesmo de piratas.


Enfim, foi uma viagem e tanto, com direito a sol, mar, mergulhos, passeios de jetski etc. Abaixo, posto mais algumas imagens de Barbados.

Accra Beach
Uma casa a beira mar
 
Bottom Bay - the paradise is here

Artesanato local

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Bryant Park: uma ilha de tranquilidade no coração de Manhattan

Em meio à movimentada Manhattan, ocupando o espaço de dois quarteirões, este parque oferece uma diferente opção de lazer a quem vive ou trabalha por ali. Nesta viagem que fiz a Nova York, este foi um dos lugares que mais me chamou a atenção.


Quando viajei para Nova York, em maio último, imaginei que dificilmente traria algo para postar no blog. Não por não haver nada interessante na cidade, mas pelo fato de esta ser um destino já bastante conhecido dos brasileiros, hoje um grupo bastante significativo entre os turistas que a visitam. De início, imaginei que tiraria boas fotos no Central Park, um local onde  o contraste entre a vegetação e os arranha-céus ao fundo renderia algumas imagens interessantes. Mesmo assim, um texto sobre o lugar não seria grande novidade para a maioria das pessoas que já estiveram lá. A verdade, no entanto, é que nem mesmo boas fotos consegui. O parque estava cheio de turistas, estudantes em excursão e até mesmo uma equipe de fotógrafos profissionais, com sua parafernália armada, que tiravam fotos de modelos seminuas num ensaio de moda para alguma loja ou grife. 

Saí decepcionado, mas com a esperança de que o acaso me levasse a algum outro ponto, onde conseguiria tanto boas fotos quanto algo pra contar. E não demorou muito para que isso acontecesse. Voltando de um passeio muito cansativo, onde havíamos enfrentado uma fila gigantesca em meio a centenas de turistas, eu e Felipe deparamos com essa pequena ilha verde no meio de Manhattan: Bryant Park.


Despretensioso, o parque ocupa o espaço de dois quarteirões e dispõe de um imenso gramado central cercado por árvores frondosas sob cuja sombra pessoas de todas as idades podem desfrutar, cada uma ao seu modo, da tranquilidade e beleza natural do lugar. O espaço conta também com cadeiras e mesas ao ar livre para leitura, onde muitos aproveitam um raro momento de distração na "cidade que nunca dorme".

No gramado central, pessoas estiram-se ao sol para ganhar uma cor ou praticam algum esporte. Ao redor deste, há ainda quiosques onde se pode tomar um café, além de dois restaurantes - um ao ar livre, outro coberto - nos quais, ao fim do dia, muitos novaiorquinos começam a relaxar num descontraído happy hour.


Encontram-se também na área do parque um chafariz e um lindo carrossel, aproveitados principalmente pelas crianças.

Mas interessante mesmo foi topar com uma estátua de José Bonifácio de Andrada e Silva, homem de importante participação no processo de independência do Brasil. Doada ao governo norte-americano em 1953,  durante a segunda gestão de Getúlio Vargas na Presidência da República, a estátua traz, em inglês, uma breve descrição de Bonifácio, cujas ações políticas durante o Império influenciaram diretamente Dom Pedro I na decisão de romper com Portugal e proclamar a independência brasileira. O monumento encontra-se dentro do parque, mas está voltado para a rua e à vista de quem caminha pela calçada que cerca o lugar. Essa foi mais uma das surpresas que tivemos no Bryant Park.


Abaixo está um mapa com a localização exata do parque, ao qual se pode chegar facilmente, a pé, de Times Square ou da Broadway. Maiores informações sobre a programação do parque ou sobre sua história podem ser encontradas em seu website oficial (http://www.bryantpark.org).