Em junho de 2009, conheci o arquipélago brasileiro de Fernando de Noronha, uma das melhores viagens que fiz até hoje. Fiquei encantado com a beleza natural do lugar e com a diversidade da fauna aquática, que parecia não se importar em dividir seu habitat com os inquietos humanos, sempre em busca de novos paraísos. Ali era possível mergulhar entre peixes exóticos, tartarugas marinhas e, até mesmo, tubarões, que - muito bem servidos com o fartura daquelas águas - eram indiferentes à presença dos turistas.
Além da atmosfera de completa harmonia com a natureza, pude sentir ali uma imensa tranquilidade. Havia tão pouca gente... Era um lugar perfeito para dar uma pausa do mundo e refletir sobre a vida. À exceção dos passeios guiados, dos quais sempre participava um grupo de turistas, quase não havia pessoas nas praias ou nos lugares próximos à minha pousada.
Uma vez terminado o circuito de passeios recomendados aos visitantes, resolvi explorar Noronha por conta própria. Descobri que a exuberante fauna marinha não estava apenas nas piscinas naturais às quais éramos levados por guias turísticos, estava em todo lugar. Além disso, a ilha era repleta de paisagens fantásticas! Chegar até esses lugares, no entanto, nem sempre era fácil. Como todo paraíso, requeriam algum sacrifício para serem atingidos. Eram como um prêmio, reservado a quem estivesse disposto a atravessar trilhas e outros desafios naturais.
Uma vez terminado o circuito de passeios recomendados aos visitantes, resolvi explorar Noronha por conta própria. Descobri que a exuberante fauna marinha não estava apenas nas piscinas naturais às quais éramos levados por guias turísticos, estava em todo lugar. Além disso, a ilha era repleta de paisagens fantásticas! Chegar até esses lugares, no entanto, nem sempre era fácil. Como todo paraíso, requeriam algum sacrifício para serem atingidos. Eram como um prêmio, reservado a quem estivesse disposto a atravessar trilhas e outros desafios naturais.
Certa vez, para passar de uma praia a outra, mais isolada, tive de cruzar um caminho repleto de pedras pontiagudas. Ao mesmo tempo em que machucavam os pés, as pedras, por causa de seu formato, tornavam impossível a travessia com sandálias. Tênis, então, nem pensar, pois a água do mar arrebentava ali a cada vinte segundos. O desconforto era o preço a se pagar para chegar do outro lado, não havia outro jeito.
No final, valeu a pena! Naquele dia, mergulhando nas águas tranqüilas do outro lado, tive a mais fantástica experiência de contato com a natureza de toda a minha vida. Enquanto mergulhava com meu snorkell, avistei uma gigantesca raia que deslizava sobre a areia apenas dois metros abaixo de mim. Era uma criatura incrível, imponente! Sua largura excedia à dos meus braços abertos, e seu cumprimento - da cabeça ao fim da longa cauda - chegava a quase três metros. Aquele momento, que prolonguei por alguns minutos enquanto acompanhava o imenso peixe em seu trajeto, é uma memória que guardarei para sempre.
Mais tarde naquele dia, contando a um nativo de minha experiência e da dificuldade para se cruzar o pedregoso caminho até o lugar, ouvi dele o seguinte comentário:
– Eu nunca machuco os pés para chegar ali. Conheço o caminho das pedras quadradas.
Achei ótima a expressão! E fácil de entender. Era comum, ao longo daquele trajeto, avistar aqui e ali rochas com uma superfície plana, em vez de formas pontiagudas. A cada passo que se dava, era quase instintivo olhar ao redor em busca de uma pedra “fácil”, uma “pedra quadrada”, que aliviasse a difícil travessia. Às vezes, até se dava a sorte de encontrar duas ou três pedras assim, próximas umas das outras de forma que, ao menos por uma curta distância, se podia seguir adiante sem machucar os pés. O que o nativo me dizia era que, por morar lá desde que nasceu, aprendera um jeito fácil e sem dor para chegar àquele lugar - uma trilha de pedras planas que possibilitava ir de uma praia à outra sem maiores dificuldades: o caminho das pedras quadradas.
Recentemente, em meio a adversidades que me estavam testando ao extremo, perguntei-me se haveria também na vida um caminho assim, que tornasse possível chegar ao ponto desejado com um mínimo de sacrifício e, mais importante de tudo, sem se machucar. Hoje sei bem que tal caminho não existe. A estrada da vida está repleta de todo tipo de obstáculo, mas há também pedras planas e lindas paisagens. E a felicidade não está necessariamente no fim do trajeto, mas ao longo dele.
Sentir-se feliz é mais do que ser ou ter algo almejado; é saber apreciar as coisas boas do presente e não apenas o momento da conquista. Inquieto por natureza, o ser humano está sempre em busca de um novo objetivo e nunca satisfeito com o que já tem. Essa busca, eternamente renovada, acaba-se tornando fonte de inastisfação para muitas pessoas, incapazes de reconhecer valor naquilo que já conquistaram ou que a vida, simplesmente, lhes ofereceu de graça. A sabedoria do bem viver está em enxergar não apenas as pedras pontiagudas - que existem, diga-se de passagem - mas também as flores e alegrias que aparecem pelo caminho.